Sinopse: Ser levada para uma cidade especial não estava nos planos de Sybil. Tudo o que ela mais queria era sair de Kali, zona paupérrima de guerra entre a União e o Império do Sol, e não precisar entrar para o exército. Mas ela nunca imaginou que pudesse ser um dos anômalos, um grupo especial de pessoas com mutações genéticas que os fazia ter habilidades sobre-humanas inacreditáveis. Como única sobrevivente de um naufrágio, ela agora irá se juntar a uma família adotiva na maior cidade de mutantes do continente e precisará se adaptar a uma nova realidade. E logo aprenderá que ser diferente pode ser ainda mais difícil que viver em um mundo em guerra. Autora: Bárbara Morais / Editora: Gutenberg / Páginas: 304 Comprar: Amazon
Se
você acompanha o blog, deve ter visto que no Dia da Mulher eu fiz uma lista com
algumas autoras que, na minha opinião, todo mundo deveria conhecer (aqui). Entre as
que escolhi, estava a Bárbara Morais. Ao longo do mês, todas as resenhas que
publiquei foram de livros escritos por mulheres e, hoje, vou falar sobre o
livro que fez com que eu me apaixonasse pela escrita da Bárbara e a incluísse
na lista. Então, se você ainda não a conhece e não leu A Ilha dos Dissidentes,
precisamos falar sobre esse livro.
Primeiro
volume da Trilogia Anômalos, A Ilha dos Dissidentes é uma distopia
que reúne alguns elementos já conhecidos de quem gosta do gênero, mas que são
utilizados de uma maneira totalmente diferente e combinados com outros
inovadores. Confesso que senti muito orgulho de ver uma escritora brasileira
desenvolvendo uma história tão diferente e envolvente. Para quem acha que na
literatura nacional não há bons livros de fantasia ou distopia, pode começar a
rever seus conceitos.
Neste
livro, o leitor é apresentado a uma realidade em que, após uma grande guerra, o
mundo foi dividido em dois países, a União e o Império do Sol. Assim,
acompanhamos a trajetória de Sybil, uma menina órfã que vive em uma zona de
guerra entre os dois países, mas finalmente conseguiu autorização para viver em
uma região de refugiados, afastada do conflito. Porém, o navio em que estava
sendo levada acaba afundando e ela é a única sobrevivente.
Depois
de uma série de exames, Sybil é informada que a razão para que ela tenha
sobrevivido é que ela é portadora de uma mutação especial que lhe dá uma
incrível capacidade relacionada à agua. Assim, ao invés de ser enviada para
viver como refugiada, ela passará a viver em uma das cidades destinadas a
pessoas como ela, conhecidos como anômalos. A partir daquele momento, a
convivência com pessoas consideradas normais deveria ser mínima, porém, ela
viveria em uma boa cidade, seria adotada por uma família, frequentaria a escola
e teria uma vida relativamente normal.
A
adaptação de Sybil à sua nova vida é rápida. Ela passa a viver com uma mãe
adotiva, Rubi, seu filho Tomás e seu irmão Dimitri. Além disso, ela rapidamente
faz amizades na escola. Graças à sua vizinha Naoki, ela também é apresentada a
Brian e Leon. Além disso, acaba se aproximando de Andrei, um menino que era um
pouco isolado, mas que acaba se juntando ao novo grupo de Sybil.
Na
escola, Sybil tem aulas consideradas normais, mas também tem disciplinas que a
ajudarão a desenvolver a sua recém descoberta habilidade especial. O único
problema é que Sybil acaba sendo selecionada para participar das aulas de
TecEsp, uma misteriosa disciplina oferecida na escola em que ninguém, além dos
alunos que participavam, sabiam o que de fato acontecia, mas todos queriam
participar. Assim, ela, sem querer, desperta a atenção e a inveja de alguns
colegas. No entanto, isso não a atrapalha tanto e Sybil consegue levar a vida
normalmente, até descobrir por que tanto mistério em torno dessa disciplina.
O
primeiro ponto que preciso destacar sobre esse livro é o quanto o universo
criado pela Bárbara Morais é diferente de qualquer outro que eu já tenha lido. Claro
que, como em outras distopias, há coisas muito erradas na forma como a
sociedade apresentada é organizada. No entanto, isso não fica tão evidente à
primeira vista. Os anômalos são separados do resto da sociedade, mas, apesar de
sabermos que isso não está certo, não é algo que fica evidente, pois eles levam
uma vida normal. Ao contrário de outros livros em que a segregação e a
desigualdade social são evidentes, aqui os excluídos vivem em boas condições e
têm uma aparente liberdade. Suas cidades são bem construídas e eles têm acesso
à boa alimentação, moradia, escolas, etc.
É
com o desenvolvimento da história e com pequenos acontecimentos que somos
lembrados que aquilo não está certo. O próprio nome pelo qual as pessoas com
mutações são chamadas, anômalos, já demonstra que o tratamento que recebem está
errado. Eles são forçados a usarem roupas amarelas para serem identificáveis e
não interagirem com “pessoas normais”. Além disso, em cidades mais afastadas
dos locais onde vivem os anômalos, eles são barrados em alguns estabelecimentos
e são frequentemente ofendidos pelas pessoas. Assim, vamos percebendo que, por
trás daquela aparente liberdade e normalidade, está escondido um enorme
preconceito e segregação. Consequentemente, Bárbara constrói esse universo
ficcional de uma maneira que inclui sutilmente diversas críticas sociais.
Outro
aspecto que gostei bastante no livro é a diversidade e a representatividade
presente na obra. Apesar de ser um universo totalmente diferente, com
personagens que têm habilidades especiais comparadas às dos X-Men, fica
evidente a preocupação da autora em trazer diversidade para a história. E o
mais interessante é que isso não é feito de uma maneira caricata ou como se ela
estivesse cumprindo uma obrigação, como já vi em alguns livros. A diversidade
presente em A Ilha dos Dissidentes é real e os personagens são, de fato,
representativos. Por mais fantásticos que sejam os poderes deles, é possível perceber
o quão humanos eles são e o quanto eles representam a nossa sociedade.
Não
podia deixar de destacar aqui também o quanto a escrita da Bárbara é
envolvente. Logo nas primeiras páginas eu já estava completamente mergulhada na
história, querendo entender como funcionava aquele universo e qual seria o destino
da Sybil. Mesmo sendo um livro com muitas descrições, pois está apresentando um
mundo completamente novo para o leitor, elas não são excessivas e a leitura é
fluida, não perdendo o ritmo em momento algum.
Por
fim, preciso comentar também sobre a edição. A capa é bem chamativa e tem tudo
a ver com a história. As páginas são amareladas e a diagramação está excelente,
com uma fonte de ótimo tamanho e um bom espaçamento entre as linhas, facilitando
muito a leitura. É uma edição simples,
sem muitos detalhes, mas que está muito bem-feita e agradável para ler.
A
Ilha dos Dissidentes é,
então, um livro que eu recomendo muito para quem gosta de distopia, fantasia e
ficção. Para quem duvida da qualidade da literatura nacional, a Bárbara Morais
escreveu um universo muito original, mas também rico e cheio de críticas e
reflexões sobre a nossa sociedade. Os personagens são complexos e bem
construídos, indo muito além de suas impressionantes habilidades mutantes.
Fiquei completamente apaixonada por este livro e não vejo a hora de dar
continuidade na trilogia.
Ah,
e como sempre, quero saber a opinião de vocês sobre esse livro: se pretendem
ler ou já leram, o que acharam, se também recomendam a leitura, etc. Então, não
deixem de me contar aí nos comentários.
Outras
resenhas publicadas em março:
Lágrimas
agrestes: Aqui
Três
coisas sobre você: Aqui
A
Rebelde do Deserto: Aqui